Em tempos nos quais a humanidade necessita tanto dos valores e princípios montessorianos de valorização ao humanismo e à ciência, trazemos até você a tradução* de uma conversa preciosa com Steve Hughes, neuropediatra especialista em Montessori, publicada originalmente pela “Greensboro Montessori School”. Confira a primeira parte do diálogo*, e fique ligado em nosso blog para ler o texto na íntegra:
“A pesquisa científica válida e confiável e a teoria do desenvolvimento cerebral devem ser a força motriz por trás de qualquer sistema escolar.”
Infelizmente, em nosso país, muitas vezes essa não é a realidade. Muitas das escolas do nosso país são baseadas em uma era industrial, de correias transportadoras, estilo "information-in, information-out". Falta nesta abordagem antiquada a criança como agente e a criança como cidadã e líder engajada, responsável e confiante.
Nós somos incrivelmente afortunados por isso não estar faltando na Greensboro Montessori School. Somos afortunados por nossa pedagogia, nossa metodologia e nossa própria forma de aprender, pensar e ser baseados em sólida teoria científica e pesquisa. A Dra. Maria Montessori se encarregou disso.
Maria Montessori era uma cientista. Foi médica, educadora, feminista, destruidora de barreiras e inovadora, que utilizou a observação científica e a experiência de trabalhar com crianças pequenas para projetar materiais didáticos e um ambiente de sala de aula que fomentassem o desejo natural de aprender. A Dra. Montessori abriu sua primeira escola (Casa dei Bambini) em 1907, e hoje existem cerca de 4.000 escolas Montessori certificadas nos Estados Unidos e cerca de 7.000 em todo o mundo. Ela desenvolveu um movimento escolar que está perfeitamente alinhado com o que a ciência moderna e as pesquisas em neurociência de hoje confirmam a necessidade de nossos filhos.
Embora o campo da neurociência moderna e da pesquisa cerebral não tenha existido durante seu tempo, suas teorias e metodologias resistiram ao teste do tempo, e hoje a neurociência e a pesquisa cerebral apóiam plenamente a metodologia Montessori. Nossa recente visita de desenvolvimento profissional com o Dr. Steven Hughes reuniu os mundos da educação, desenvolvimento cerebral e pesquisa de Montessori. Dr. Hughes é um neuropsicólogo pediátrico certificado pelo conselho e ex-presidente da Academia Americana de Neuropsicologia Pediátrica. Seus interesses de pesquisa estão no que promove o crescimento das funções executivas, habilidades sócio-emocionais, e raciocínio moral. Além disso, ele e sua esposa têm um relacionamento de longa data com Montessori: ela é formadora da Association Montessori Internationale (AMI) em toda a Europa, e Steve é o presidente fundador do Comitê de Pesquisa Global da Association Montessori International. Acrescentar a voz de Steve ao nosso diálogo contínuo sobre como podemos proporcionar a melhor experiência possível à Montessori foi excepcionalmente valioso para nós. Durante dois dias inteiros, tivemos afirmações do que fazemos, conversas desafiadoras, novas inspirações e aspirações revigoradas.
Steve enquadrou muitas de suas observações em torno do que a pesquisa mostrou que os alunos realmente precisam para o sucesso na vida. Sim, boas notas nos testes são úteis, pois criam acesso a oportunidades futuras, mas boas notas apenas nos testes não são o mais importante. Pesquisas mostram que eles não estão correlacionados com o sucesso na vida, e não são o que empresas como Google, IBM e Ernst & Young buscam em novas contratações. Essas empresas querem indivíduos que possam resolver analiticamente problemas difíceis, que possam trabalhar colaborativamente dentro de um grupo e que possam alavancar a complexidade. Eles querem pessoas que possam olhar ao redor, descobrir o que precisa ser feito, e fazer isso. Querem um pensamento original... o ensino convencional não tem como objetivo ajudar os alunos a desenvolverem pensamentos originais. As escolas Montessori, por outro lado, são absolutamente montadas para despertar e gerar pensamentos originais.
O que os alunos precisam para ter sucesso são as estruturas neurológicas subjacentes de seu cérebro para serem totalmente desenvolvidas e afinadas. Dr. Hughes nos falou sobre como tudo isso acontece no neocórtex, a pele do cérebro: o neocórtex tem a área de um guardanapo de linho desdobrada e tem apenas alguns milímetros de espessura. Existem pelo menos 6 camadas de neurônios interligados que são extraordinariamente complexos. E enquanto você pode pensar que nosso neocórtex é para "pensar", na verdade é para construir um mapa sensorial-motor do mundo e para gerenciar entradas, seqüências e padrões sensoriais. Por exemplo, quando nos sentamos em uma cadeira ou dirigimos um carro, não "pensamos" ativamente sobre isso, pois temos um mapa sensorial-motor desses processos e construímos dentro do nosso neocórtex expectativas percebidas de como algo como uma cadeira ou um carro funciona. Quando aprendemos como responder aos padrões existentes e como gerenciar anomalias - é assim que ficamos bons nas coisas. É preciso prática. Como Jeff Hawkins escreve: "Padrões são a moeda fundamental da inteligência".
Fim da parte I
* Todas as opiniões, dados e citações foram mantidas o mais fiéis possível ao original. As falas em destaque são do próprio Dr. Hughes e, como sempre, refletem exatamente o pensamento dos educadores montessorianos, que pautam seu trabalho nas mais recentes evidências científicas e o embasam por meio do Método Montessori, que tem se demonstrado cada mais mais próximo do que a atual neurociência vem descobrindo sobre o desenvolvimento infantil, colocando a Dra. Montessori não apenas como pioneira, mas também como antecipadora do que hoje sabemos sobre a infância e os planos de desenvolvimento. As imagens presentes no texto e a fotografia que o ilustra são peças de domínio público, originalmente publicadas pela Greensboro Montessori School.
