Como as famílias de nossa comunidade escolar sabem por meio do comunicado enviado recentemente, nossa escola adotará o chamado agrupamento Montessori, que na prática propõe que crianças de diferentes idades possam interagir e aprender dentro de um mesmo grupo.
O agrupamento montessoriano foi revolucionário na época de sua proposição não apenas por conter em si crianças de diferentes idades, mas também por ser uma das experiências pioneiras com crianças de ambos os sexos frequentando o mesmo espaço de ensino. Hoje pode parecer absurdo, mas no passado, havia salas e até mesmo escolas para meninos e meninas.
Isso acontecia pois os educadores, até a segunda metade do século passado, acreditavam em teorias que hoje sabemos ultrapassadas, como a que pregava a diferença da capacidade cognitiva feminina e masculina. Porém hoje, de posse de um conhecimento muito mais refinado, sabemos que homens e mulheres são dotados das mesmas capacidades intelectuais, e os sistemas de ensino separados tornaram-se obsoletos.
E assim como a educação “para meninos” ou “para meninas”, o agrupamento tradicional que coloca as crianças em salas nas quais todos estão na mesma faixa etária pode não ser o ideal quando se trata de obter resultados em educação.
Montessori sempre defendeu uma pedagogia onde meninos e meninas devem ter acesso às mesmas oportunidades de aprendizado pois, independente do gênero, são antes de tudo seres humanos que devem ser educados para a independência e a autonomia. Todos são educados para aspectos práticos da vida em conjunto, já que para aprender a conviver respeitosamente, realizando as tarefas necessárias para o bom andamento do grupo e do aprendizado independe de idade.
Este é um ponto importante a ser observado. Como dissemos acima, não são todas as atividades feitas em conjunto no agrupamento. Para as atividades pedagógicas específicas, que exigem determinada evolução cognitiva e domínio de certas habilidades, as crianças são sim separadas de acordo com seu grau de desenvolvimento, que pode variar inclusive entre crianças da mesma idade.
A separação por idade cronológica se baseia em teorias que defendem que crianças da mesma idade possuem interesses e etapas de desenvolvimento muito semelhantes, e estas teorias são largamente aceitas atualmente, assim como era por Montessori e o são nas instituições montessorianas. Não negamos que o desenvolvimento cognitivo possui etapas e que a crianças se desenvolve progressivamente. Na realidade, Montessori se atém muito a estes fatos, e nosso esforço pedagógico é todo baseado nele. Porém, como atesta a neurociência atual, Montessori revoluciona ao identificar que as chamadas faixas de desenvolvimento são muito mais flexíveis do que se pensava, e abarcam intervalos de idades nos quais o desenvolvimento é semelhante.
Em nossa concepção de ensino, crianças de diferentes idades colaboram entre si. Dividem aprendizados, ensinam umas às outras e cooperam.
Os agrupamentos Montessori que trabalham com crianças de 3 à 6 anos, 6 à 8 anos e 8 à 11 anos estão de acordo com o que há de mais atual em termos de saberes científicos sobre o desenvolvimento cognitivo humano, e mesmo quando há diferenças entre crianças de mesma idade, o aprendizado se dá de forma fluida, respeitando o desenvolvimento cognitivo a criança aprende no seu próprio ritmo, o ambiente preparado oferece o conteúdo a ser aprendido na forma de materiais e cada um escolhe o tema que no momento a interessa.
No agrupamento, os pequenos de diferentes idades colaboram, ensinam e servem de exemplo uns aos outros. É enriquecedor tê-las em um mesmo grupo, e o convívio ajuda no aprendizado de forma sensível, como se pode perceber com a alfabetização de crianças educadas pelo Método Montessori: a colaboração dinamiza os processos de aprendizado.. Crianças maiores oferecem sua capacidades às menores, e as menores contribuem com a curiosidade natural ainda mais aguçada, gerando um ciclo de ajuda mútua.
Assim como as turmas que abarcam meninos e meninas eram o prenúncio de um futuro mais igualitário, as turmas mistas por idade também são, hoje, a educação do futuro. Mais uma vez, Montessori estava à frente de seu tempo, motivada, assim como nós, pela busca da compreensão da criança, para dar a ela a autonomia e capacidades necessárias para tornar-se um ser humano pleno.
