De acordo com Maria Montessori, a educação vai muito além da simples preparação acadêmica, e as vivências cotidianas da criança podem não apenas colaborar com seu desenvolvimento cognitivo, mas também estimular seu senso de ética. A educadora italiana costumava dizer que educar para a cooperação é colocar a paz em movimento.
Em tempos como os nossos, onde a individualidade e a competitividade parecem nortear as relações de forma jamais vista, a afirmação de Montessori pode parecer estranha. Infelizmente. A modernidade líquida vem formando gerações muito mais egoístas e carentes de empatia, o que se reflete não só nas relações sociais e ambientais, mas também na capacidade cognitiva dos seres humanos.
O comportamento competitivo e egoísta trazido pelo hiperconsumismo e a noção de relações descartáveis acaba encobrindo valores tão naturais quanto fundamentais para o desenvolvimento humano: a cooperação e a solidariedade. Os resultados vão além do medo, da angústia e do o apego exagerado aos bens materiais. Eles são sentidos também no desempenho cada vez mais fraco de alunos de todas as idades em testes simples e no despreparo dos jovens para o mercado de trabalho e para a vida acadêmica.
Isso acontece pois ao deixar de lado a cooperação, estamos indo contra a própria natureza humana, que evoluiu justamente para a solidariedade, a ajuda mútua que proporciona a descoberta, a troca de ideias que possibilita a invenção.
Sempre fazemos questão de destacar a função primordial da colaboração mútua no Método Montessori. Não apenas por querermos dar uma base ética sólida a nossas crianças, mas também por compreendermos que à luz da ciência, evidências contundentes demonstram que crianças que trabalham em regime de cooperação apresentam resultados excelentes em suas atividades escolares e também se tornam adultos mais capazes e autônomos (uma vez que a própria independência é fruto da cooperação, da compreensão do outro).
Em nossa escola, muito se faz pela colaboração mútua, desde as atividades em grupo até a própria organização do agrupamento Montessori, que coloca crianças de diferentes idades no mesmo ambiente educativo, proporcionando trocas de experiências, conhecimentos e vivências, que ajudam a formar o caráter, a personalidade e a atingir níveis cognitivos excelentes. Acreditamos que disputas e competições são desnecessárias e prejudiciais, e nossa crença se baseia em amplas evidências, empíricas e teóricas:
A cooperação e solidariedade movimentaram o pensamento colaborando para a paz e a interdependência entre os indivíduos e o coletivo, tão necessária para uma individualidade saudável.
A proposta montessoriana reforça esses fundamentos em sua concepção de educação, ensinando aos alunos não apenas os conteúdos, mas também as múltiplas formas de convivência e sua natureza essencialmente cooperativa.
Para Montessori, a educação é para vida, e tem como objetivo à formação integral, no sentido de garantir o desenvolvimento de indivíduos independentes e responsáveis, que encontrarão um lugar no mundo para exercer um trabalho gratificante, mover a paz e exercer a capacidade de amar.
Esta é a verdadeira inteligência, calcada na natureza humana de forma indelével, a inteligência que enxerga o outro como igual, e aposta nos recursos coletivos para descobrir, inventar, administrar, criar e gerir.
É por isso que educar para cooperação é pôr a paz em movimento:
“As pessoas educam para a competição e esse é o princípio de qualquer guerra. Quando educarmos para cooperarmos e sermos solidários uns com os outros, nesse dia estaremos a educar para a paz!” - Maria Montessori
