Mesmo que superficialmente, muita gente conhece o Método Montessori, e todos reconhecem o gênio de sua criadora. Existem controvérsias quanto ao método de análise freudiana, e até mesmo lacunas na teoria geral da relatividade. Montessori, ao contrário, parece estar acima das críticas, e à frente de seu tempo. Tudo o que os pesquisadores têm feito ao se debruçar sobre a obra dessa pioneira da medicina e da pedagogia é confirmar suas teorias e associá-las ao que de mais atual existe na neurociência e na ciência da educação. Montessori é uma unanimidade. Mas o que faz dela alguém tão bem credenciada e cotada no mundo científico e filosófico, onde as personalidades são quase todas cheias de ambiguidades e controvérsias?
A resposta está na descoberta de Montessori, no modo como ela se deu e nos desdobramentos que terminaram por se tornar o método que hoje é adotado com sucesso em escolas do mundo inteiro.
Montessori era uma mulher extremamente inteligente e culta, leitora dos clássicos da filosofia e parte de uma classe social ascendente na Itália, tendo crescido em um ambiente de liberdade e progressismo. Essa bagagem cultural despertou nela uma imensa curiosidade pela ciência, que a fez seguir carreira na medicina mesmo em uma época na qual se um médico era “coisa de homem”. A partir de sua formação como médica - especializada em psiquiatria - a jovem Maria teve contato com crianças com dificuldades de aprendizado e outras limitações (na época classificadas como “retardo mental”), e logo tratou de desenvolver uma abordagem de ensino que possibilitava a essas crianças aprenderem, e com ótimos resultados.
E essa abordagem privilegiava justamente a capacidade inata de aprendizado que Montessori observava nas crianças. Em resumo, ela percebeu que todos temos a capacidade de ensinar a nós mesmos, desde que nos deem condições para fazer isso. Uma concepção de educação que ia além do ensino tradicional e prezava a individualidade, a liberdade e a atividade, quebrando limites e colocando o ser humano como sujeito e objeto do ensino, a um só tempo. Uma educação que pretendia se estender além do simples acúmulo de informações, e preparar para a vida em todos os sentidos. Para atingir esse objetivo, Maria Montessori contava com o maior de todos os aliados: a natureza. Observando as crianças, ela foi capaz de descobrir a essência da infância, e de ver que o ato de aprender é, antes de tudo, natural, uma vez que o desejo de descobrir, a ânsia pelo aprendizado, é natural a todos os seres humanos.
Assim, a metodologia montessoriana nascia inspirada na natureza, com o objetivo de ir muito além de simplesmente ensinar pessoas a conviver em sociedade e obter sucesso material: para o educador montessoriano, a grande realização do ser humano é encontrar sua própria natureza, seu lugar no mundo e promover a paz consigo mesmo e com seus semelhantes, valorizando o coletivo por meio de cada indivíduo.
Montessori argumentava que seu método não contrariava a natureza humana. Ao contrário, ia de encontro a ela e, por isso, era mais eficiente do que os tradicionais: a educação pelos sentidos e a educação pelo movimento são as formas primordiais de aprendizado, e portanto, as mais adequadas para descobrir o mundo. A partir daí, o desenvolvimento de materiais, práticas e parâmetros éticos que definiriam o método foi uma questão de tempo.
E o tempo também mostraria ao mundo que, de fato, Montessori fez aquela que talvez seja a maior das descobertas: A descoberta da criança, e por extensão do ser humano. Por esse grande feito, seu nome seria lembrado para sempre. Podemos afirmar, com toda certeza, que hoje vemos a infância de uma forma muito mais humana, empática e compreensiva por conta do legado montessoriano, que não se limita às instituições que adotam essa linha pedagógica, estando presente em toda cultura ocidental. Se hoje sabemos que as crianças trazem dentro de si o potencial criador que permite que elas mesmas conduzam seu aprendizado e encontrem um lugar no mundo, é a Maria Montessori que devemos agradecer.
